terça-feira, 19 de novembro de 2013

E o surgimento da vida?

Quando falamos em origem da vida na Terra, sempre acabamos caindo em uma encruzilhada, sendo que um dos caminhos nos leva ao que o antigo conhecimento nos diz, garantindo que existe uma estrutura idealizada por uma mente superior, ou seja, Deus é quem cria a vida. O outro caminho nos leva o que a ciência mostra, dizendo que a vida é apenas um evento natural, assim como a mudança de estado físico de uma substância com o aumentar de temperatura, ou seja, algo comum fenomenológicamente dizendo.

Mas qual caminho é o mais real? Seria o caminho que a religião propõe uma fraude, pois a ciência explica com provas as coisas da natureza, ou seria o caminho da ciência algo errôneo, pois não consegue explicar coisas fora do sistema aceito pela comunidade como real.

Percebe-se que as perguntas tendem a deixar opostas as visões de ciência e religião, porém não é correto dizer que uma anula a outra. A religião e a ciência são dois meios que as pessoas usaram e usam até hoje para conseguirem ver o mundo por diferentes prismas, sendo que a religião atribui o início de tudo a uma ação divina, enquanto a ciência se usa de meios onde a natureza do universo se dá com a ação de forças que definem a própria natureza. Podemos perceber que no cerne tanto a religião quanto a ciência atribuem o início de tudo a forças que não podem serem controladas, logo, filósofos racionalistas como Espinoza, acabaram definindo tais eventos como uma coisa só, ou seja, uma interseção entre ciência e religião, natureza e Deus, chegando a ideia de que Deus e natureza são uma única coisa, somente separadas por definições epistemológicas da compreensão humana.

Com isso a ideia de surgimento da vida também se atrela a essa forma de raciocinar, teria sido Deus ou a Natureza o criador da vida?

Segundo a ideia de Espinoza se a vida é algo natural, ou seja, surge necessariamente dentro do universo natural, e a natureza e Deus são uma coisa só ou mesmo a mesma coisa, chegamos ao consenso de que natureza e Deus criaram a vida. Essa dualidade frente a quem é o responsável pela criação se dá pela necessidade do pensar humano em pregar rótulos em tudo o que existe. Esse comportamento é muito instintivo do ser humano, tanto que acaba até atrapalhando na interpretação de fenômenos (A aceitação de elétrons como partículas do átomo e suas características duais demoraram muito para serem compreendidas devido esse comportamento da lógica humana).

No início quando surgiu a vida na Terra, o ambiente era parecido com o da imagem. Atmosferas contendo gases como Dióxido de Carbono, Metano, Vapor de Água e Amônia. A Hidrosfera coberta com mares quentes e de pHs extremamente ácidos.

Porém em quem acreditar, no que está escrito no Gênesis ou o que a ciência descobriu frente a evolução dos seres vivos?
O Gênesis não passa de uma metáfora frente ao não saber o que ocorreu antes dos relatos que se tinham na época. É provável que as coisas aprendidas frente a evolução que foram observadas na época acabavam se perdendo com o passar do tempo, pois não havia registro dessas descobertas, sendo necessária a passagem de forma oral. Com o passar de algumas gerações essas descobertas acabam se perdendo. Algumas coisas bastante comuns para o povo ligado a cultura judaica é a observação, muito parecido com o que Darwin fez com os tentilhões. Há relatos onde se separavam animais malhados de animais de cores puras para se terem gerações de animais mais fortes, ou seja, a cultura que desenvolveu o Gênesis, buscava tentar relatar algo que pudesse durar por muito tempo. Explicar a criação da vida ainda hoje é de extrema complexidade, para um povo que só se baseava em observações e comparações a nível macroscópico, as coisas tinham que ser bastante simplificadas, e as forças que agiram para que tal fenômeno observado ocorressem, eram atribuídas a uma força maior e aceita por todos. A cultura de se aceitar o que uma pessoa de mais nome dizia é proveniente da Grécia e perdurou por muito tempo na história humana, tanto que ainda hoje há casos onde as pessoas se apegam mais ao que um cientista ou um chefe religioso falam.

Portanto podemos ver que quem escreveu o Gênesis tinha intenções parecidas com quem tenta explicar a origem da vida hoje em dia e se usando de ciências para isso. Não podemos comparar o que temos de conhecimento hoje com o conhecimento que uma pessoa da época do Gênesis tinha, pois o esforço de ambos para descrever os fenômenos foi grandiosamente igual.

Portanto o Gênesis não é um livro de caráter científico (mesmo tomando caráter de um para muitas pessoas), mas sim um livro de iniciação de registros históricos. É óbvio que a natureza não surgiu a 6000 anos A.C. ou que Deus criou o homem antes da mulher. Esse livro porém é muito importante, pois mostra como o ser humano pensa frente ao desconhecido, sendo um registro epistemológico de um povo frente o início da vida.

Criação de Adão por Michelangelo - Capela Sistina - Vaticano
Hoje podemos dizer que Deus criou a natureza (por simples silogismo usando definições primordiais como premissas), e que a natureza é igual a diversas peças de dominó, onde uma foi empurrada, gerando uma reação em cadeia. Essa reação de cair de peças, uma hora esbarra em uma peça que dá o início a vida. O ato de empurrar a primeira peça é um critério de gerar rótulo a uma ação, portanto vincula-se a uma epistemologia comum a cultura humana. Se existe um início para desencadear algo, tem que haver uma força para isso. A ciência diz que é um fator organizacional do espaço e a religião que foi a vontade de Deus, segundo a forma de pensar do filósofo Espinoza, as duas coisas são uma só, sendo o fator de organização do espaço e a vontade de Deus um evento primordial que não se separam.

Fica claro que tanto a ciência quanto a religião buscam explicar fatos que não compreendemos com uma didática que os simplifiquem, portanto ficar criando guerras entre ciência e religião não faz sentido, pois são apenas dois modelos de se descrever a natureza. O Gênesis não é um livro científico e não consegue descrever o universo de tal forma, porém a ciência não consegue provar ou não provar a existência de Deus, logo, as duas visões são relevantes pois podem se completar, porém existem fatos que a capacidade humana não vai compreender nunca ou tão cedo, pois a forma de pensar necessita de rótulos pontuais, dogmas e postulados para serem aceitas.