sábado, 7 de julho de 2018

O aborto jamais será aceito por um cristão!

O Papa Francisco frisa bem que o aborto não é uma questão teológica, mas sim, científica... Ou seja... A Igreja pode se pronunciar, mas com intuito educacional dos fiéis, traduzindo o escopo científico para o escopo teológico.



Ciência e religião não são antagônicas, mas sim, complementares. A primeira se trata das definições físicas e a segunda das questões metafísicas.

No que se refere ao aborto, antes de se criarem as leis e direitos, existe a necessidade de se definir o instante de "estalo" de vida.

Esse "estalo" tem que ser embasado na definição mais básica de vida. Como se orientar nisso então? 
O reino monera (não sei se usam essa classificação ainda) é composto por seres que em geral não possuem alto grau de complexidade no que se refere às organelas e, são caracterizados como vida por características de comportamento (reprodução e alimentação). Todavia um vírus (não faz parte do reino monera) não possui organela complexa alguma, mas um comportamento básico de vida, no caso, a reprodução. Então surge uma pergunta... Por que um vírus necessita se reproduzir se não é vivo?... Logo, a definição do que é vivo ou não, se encontra sobre uma base muito frágil.

No que se refere à vida humana, um zigoto é a forma mais básica do ser, sendo formado por um espermatozoide e um óvulo. Tanto o espermatozoide, quanto o óvulo possuem organelas complexas e 50% do material genético que define um ser humano (o 100% em geral são 46 cromossomos... Uma vez que pessoas com síndrome de dawn tem um cromossomo a mais e, são seres humanos, por isso o termo "em geral"). Logo, a definição de vida humana tem que ser estudada já no zigoto. O zigoto tem como única função "crescer" e multiplicar suas células para levar a formação macroscópica de um corpo. Logo, pode-se dizer que, existe um "comportamento" zigótico, em outras palavras, um zigoto vai levar a uma estrutura corporal humana. Dessa forma, a vida não pode ser caracterizada se, existe ou não, semelhanças físicas com um corpo humano já constituído. Logo um zigoto pode sim ser caracterizado como um feto.

A ciência não consegue cravar se um vírus é ou não vida (existe sim essa lacuna, por mais que as pessoas tentem afirmar que não, pois viram em seus cursos de ciências que a vida possui necessidade desde comportamento até necessidade de descargas elétricas em sistema nervoso de seres mais complexos), por consequência, a atitude mais conservadora é a mais lógica. Essa atitude é importante pois se está lidando com a definição de vida e, não pode haver erros. Se ocorrerem erros e, realmente for vida, temos genocídio... Se realmente não for vida, não ocorrem problemas. Por isso a posição conservadora sempre é usada em ciência.

Assim, por silogistica chegamos: Se um feto é vida humana e, assassinato é a extinção premeditada de uma vida, então, a extinção premeditada da vida de um feto é um assassinato.

Se for definido que um feto é um ser humano, por definição ontológica, ele já é um "ser", se é um "ser" se enquadra como integrante da sociedade. Se é um integrante da sociedade já existem leis que garantem seu direito à vida, sendo um aborto uma ação que resulta em tentativa de assassinato e lesão corporal, logo, passível à processo para quem promove.

Ou seja, para que a legalização do aborto ocorra, deve-se abrir o pretexto do abrandamento de crimes... No caso o abrandamento do assassinato.

Logo, por diversos aspectos o aborto não é lógico.

E notem que, não se relaciona nada a termos teológicos a discussão, mas sim, somente a termos científicos e legais.



Todavia, para quem quer uma posição religiosa:

Desde o século I a Igreja tem a consciência de que o aborto é pecaminoso. Assim, por exemplo, diz a Didaqué, o primeiro Catecismo cristão, datado de 90-100:
“Não matarás, não cometerás adultério… Não matarás criança por aborto nem criança já nascida” (2,2).

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Uma ponte interpretativa entre a epistemologia científica e a crença no mundo metafísico.

De uns tempos para cá, venho estudando epistemologia da ciência, o que tem garantido novas ideias sobre o pensamento teológico também. Um fato bastante interessante, que descobri a pouco tempo e, que somente agora, consegui concatenar uma ideia básica, sobre um pensamento que se relaciona a ferramenta científica com a extrapolação do natural, em outras palavras, uma ponte mais estruturada entre a interpretação da natureza e a metafísica,.

Essa ideia, se baseia no referencial teórico de Gaston Bachelard, que foi um epistemólogo francês especialista na interpretação de como a ciência é apresentada, se desenvolve e é interpretada pelas pessoas. Uma de suas principais obras é "O Desenvolvimento do Espírito Científico", todavia, não se surpreenda com o termo "espírito", o qual não se vincula a característica transcendental, mas sim, mais ligado a uma característica de ação, saber trabalhar, compreensão, pensamento sobre algo, etc.

Figura 1: Gaston Bachelard
Dessa forma, o Desenvolvimento do Espírito Científico, resumidamente, se baseia no que Bachelard intitulou de 3 estados do desenvolvimento do espírito científico. O primeiro estado, se relaciona  ao pensamento que somente se vincula às primeiras impressões, ao senso comum e a exaltação da natureza. Esse estado do pensamento científico é conhecido como "Estado Concreto", em outras palavras, é o estado em que as reflexões científicas são limitadas somente ao mundo concreto. Dentro desse escopo, temos como por exemplo, as observações de fenômenos naturais e a aceitação deles como um todo (ocorre por si mesmo, ocorre pois tem que ocorrer). A nível matemático, somente problemas de níveis mais básicos, como os geométricos, são considerados, ou mesmo, que tem aplicação direta ao concreto tangível.

O segundo estado do desenvolvimento científico, é conhecido como "Estado Concreto-Abstrato", sendo que, é um estado de desenvolvimento mais avançado ao do Estado Concreto. Nesse momento, a pessoa se encontra num estágio que começa a aceitar o pensamento abstrato, mas ainda não consegue compreender como um todo o pensamento abstrato. Obviamente, dentro do escopo do Estado Concreto-Abstrato, a pessoa inicia pensamentos que extrapolam o que existe no tangível, em outras palavras, inicia-se uma aceitação de que existem coisas que não são possíveis serem percebidas com simples observações. Um exemplo dessa aceitação é a existência de vírus e bactérias que levam a doenças. A nível matemático, se inicia o trabalho com variáveis e incógnitas.

O terceiro estado é conhecido como "Estado Abstrato" e, se baseia, no momento em que a pessoa desenvolve capacidade cognitiva para compreender algo que extrapole completamente ao Estado Concreto. Esse fato é alcançado quando a pessoa consegue elaborar hipóteses que não se baseiem no senso comum, nas observações do tangível, no macroscópico, mas sim, que consigam elaborar ideias onde ocorra o desenvolvimento de uma projeção mental de algo mais abstrato. Exemplos desse estado mental se enquadram na compreensão de que os átomos não são pequenas bolinhas, mas sim, uma partícula que é descrita via funções de onda, ou seja, uma visão mais complexa e que necessita de mais conceitos prévios. A nível matemático, já se torna possível o trabalho e desenvolvimento de funções, sistemas, integrações, derivações, diferenciações e limites.

Creio que, agora possa ter ficado simples a observação, no que tange ao pensamento religioso. 

No caso, quem critica o pensamento religioso, tentando criar uma observação de mundo, a qual, somente a natureza se mostra como chave de todas e qualquer resposta, acaba se mostrando vinculado ao Estado Concreto, uma vez que não consegue desenvolver uma abstração extrapolativa do universo. Mesmo que, a nível científico, a pessoa se enquadre no Estado Abstrato, a nível cognitivo do todo, se mostra dependente da exaltação da natureza. Em outras palavras, não conseguiu extrapolar a ferramenta de interpretação da natureza, a qual, nos referimos como ciência. Nesse escopo, muitas vezes, existe uma grande confusão, onde a pessoa não consegue diferenciar ciência de natureza, ou ainda, do fechamento cognitivo para tudo que possa contrapor a ferramenta que ele usa.

Com isso, essas pessoas acabam se apegando muito à ferramenta de interpretação, a qual é dependente de conceitos, postulados e ideias formuladas para sua simples funcionalidade, esquecendo que, essa é uma invenção humana e, somente existe pois o ser humano existe, ou seja, a ciência é dependente do homem que a usa para ser funcional. Dessa forma, fechar o horizonte cognitivo nesse foco, acaba por limitar a percepção total de universo. Logo, se algo não se enquadra no escopo da ferramenta, ele não pode ser mensurado, se não pode ser mensurado não pode ser percebido, se não pode ser percebido então não existe. Todavia, notem que, a ferramenta de coleta de dados e de análise, possui limitações, pois foi desenvolvida para que gere significados cognitivos para os sentidos humanos. 

Entretanto, surgem questionamentos: "E os possíveis fenômenos que existem e, que ainda não são captados pelas ferramentas, devido a limitações físicas das mesmas... Não existem?... Não tem importância?"

Obviamente, se existem, esses fenômenos possuem importância, do contrário não teriam função, se não tem função, não possuem sentido e se enquadrariam em gasto energético... Fato esse que a natureza evita a todo custo, uma vez que busca estabilidade constante.

Existe também, um pensamento que retrata a ciência como uma formiga dentro de uma fazendinha dessas de plástico. O universo para ela é limitado ao que ela consegue observar (considerando o fato que a formiguinha possuísse um sistema de visão como o nosso), todavia, ela consegue apenas ver objetos muito grandes em sua totalidade, a uma determinada distância, a qual não seja nem muito perto ou mesmo muito longe. Entretanto, se o objeto estiver muito perto e, a formiguinha não conseguir reparar sua totalidade, o mesmo passará despercebido para ela (mesmo sendo gigantesco), por outro lado, se o objeto, mesmo que seja enorme, estiver longe, a mesma formiguinha, não irá conseguir percebe-lo, devido a sua limitação de observação.

Figura 2: A ciência pode ser classificada como uma forminha que não consegue ver nada além do seu foco limitado de vista, no que tange a sua característica fisiológica.
Ou seja, negar algo, devido ao fato de que o mesmo não seja perceptível pela ferramenta utilizada, não quer dizer que esse algo não exista. Um exemplo científico disso foi com o fenômeno da quantização energética dos elétrons em um átomo, explicando melhor, o elétrons possuem níveis de energia, os quais "qualificam", sua presença em um determinado local do espaço. Para isso, houve a necessidade de se desenvolver uma nova visão de mecânica, uma vez que a física clássica não mais correspondia ao fenômeno que agora estava se tornando perceptível, todavia, havia se mantido oculto, até que a ferramenta de coleta de dados e interpretação natural, viesse a se tornar apta para captar esses tipos de dados. Dessa forma, se originou a Mecânica Quântica.

Contudo, torna-se óbvio que, negar a Deus, pois O mesmo não É captado via a ferramenta de interpretação natural, não quer dizer que Ele não existe, mas sim que, Sua presença se enquadre em um escopo não natural. Todavia, para compreender essa observação, o questionador precisa extrapolar o Estado Concreto no Desenvolvimento do Espírito Científico.